Quando eu era adolescente, e estava aprendendo a dirigir, aconteceu algo em minha vida que me marcou profundamente. Estávamos na casa de um irmão de meu pai. Havia muito espaço, e era um local deserto. Eu devia ter uns 14 anos. Meu pai me pediu para tirar o carro da garagem do meu tio. Eu já tinha dirigido outras vezes. Conseguia dar conta do que tinha que fazer. Mas faltava prática, ainda era inseguro, e até descuidado com alguns detalhes. Naquele dia em especial eu não calculei direito o espaço que tinha para tirar o carro. Repentinamente, ouvi um barulho de algo arrastando na parede. Olhei para o lado de fora, e percebi que o espelho retrovisor do lado do motorista tinha arrastado na parede, tinha ficado com uma faixa branca, e tinha ficado solto.
Imediatamente, o sentimento que tive foi de completo fracasso. Como eu não tinha visto aquilo? Como pude deixar aquilo acontecer? Desliguei o carro. E fui para dentro de casa. Encontrei meu pai e contei o que tinha acontecido, e disse que nunca mais queria pegar o carro de novo. Que eu não tinha jeito para aquilo, que era muito desastrado. Naquele mesmo instante, meu pai, com uma sabedoria que apenas hoje posso reconhecer, disse que não adiantava eu dizer nada. Foi comigo até onde o carro estava, encaixou novamente o espelho retrovisor lateral, e me disse para entrar no carro e tentar de novo. Naquele momento senti muito medo. Confesso que até uma lágrima de ansiedade correu pela minha face. Em alguns segundos, pintei o quadro inteiro em minha mente. Achei que se fizesse de novo poderia errar, quebraria mais o carro, que eu era incompetente na direção, que eu não merecia uma nova chance, que eu era incapaz, que eu sempre bateria o carro… Pensei muita coisa. Mas, ao olhar para trás, vi ali meu pai, que permaneceu no mesmo lugar, e me indicou como fazer. Ele me disse como manobrar, que horas virar o volante, e que podia tentar, que estava tudo certo.
Tremendo, reiniciei o motor. Com o coração na boca engatei a ré, e com a ajuda de meu pai, consegui tirar o carro. Pode ser que para você isso não seja tão significativo, mas para mim foi um marco. Tenho certeza de que naquele momento, se meu pai não estivesse ali para me ajudar, e não tivesse me dado a confiança de que eu conseguiria, eu nunca mais teria pego num carro.
O Domínio do Medo
Isso já aconteceu com você? Você se vê diante de uma situação, de uma escolha que você faz, que infelizmente dá errado? Quero concentrar-me principalmente na situação de casamentos que se desfazem. Ali estão o noivo e a noiva, cheios de planos, de sonhos. Casam-se, esperando o sonho de viver para sempre. No entanto, a vida e seus desafios muitas vezes terminam esse sonho. Seja por uma traição, seja pela morte de um dos cônjuges, seja pelo abandono sem explicação… não sabemos a razão. O que realmente sabemos é o que sentimos. Parece que o chão se esvai de debaixo dos pés. Parece que nada mais pode trazer satisfação. Entramos num ritmo de vida que simplesmente parece ser um ciclo vicioso de idas e vindas, mas sem qualquer colorido especial.
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