Muito tem se debatido, desde muito tempo, sobre quem deve ser o chefe da casa, o dono das decisões mais importantes no lar, a última palavra em decisões. As pessoas, para fazerem valer sua posição, usam diversos artifícios, inclusive citando textos bíblicos que comprovem essa posição, de que o homem deve ser o líder. Há piadinhas que dizem que o homem pode ser o cabeça da casa, mas a mulher é o pescoço. E por assim vai.
O problema desse tipo de visão é que ele se baseia muito mais no que queremos do que realmente no que essas coisas significam. Pelo que entendo, essa discussão se refere a quem tem o poder em casa. Quem tem o poder de decidir, de dar rumo, de dar direção.
Vivo numa sociedade extremamente machista, que diz que o homem deve ser o chefe, a palavra final. O problema é que muitas mulheres reclamam que são maltratadas, são ignoradas, são mesmo vítimas de desmandos e abusos, por homens, em nome da dita autoridade no lar.
Para colocar mais lenha nessa fogueira, gostaria de comentar mais um estudo da série que estamos apresentando aqui no blog. Ele trata de como é fácil ser corrompido pelo poder. Trata de uma pesquisa feita em 2003, publicado numa revista científica americana.
Esse estudo juntou estudantes em grupos de três para escreverem um trabalho curto juntos. Dois estudantes deviam escrever o texto, enquanto o terceiro deveria avaliá-lo e determinar quanto seria pago a cada um dos estudantes redatores. No meio do trabalho, um pesquisador trazia um pratinho com cinco biscoitos. Embora o último biscoito quase nunca fosse comido, o “chefe” quase sempre comia o quarto – e o fazia de modo desleixado, mastigando com a boca aberta. Ou seja, porque ele ocupava a posição dita de chefe, podia se permitir certas regalias, e deixava-se levar pela posição que ocupava.
Ler esse estudo me fez pensar que muitas pessoas desejam ser os responsáveis pelo lar, ser os chefes, porque não gostam quando as coisas andam contrariamente ao que desejam. Além disso, entendem de maneira errada essa questão de ser chefe, já que para eles, isso significa ter um passe livre para decidir o que quiserem, do jeito que desejarem. Não penso dessa maneira.
Quanto à primeira ideia, a de que as pessoas andam têm dificuldades de para lidarem com questões que vão de encontro ao que desejam, percebo que é uma tendência da geração atual. Fomos criados, e ainda estamos criando desse jeito, acreditando que qualquer problema que viéssemos a enfrentar, não deveríamos nos preocupar com as consequências. Era simplesmente necessário pagar um bom advogado, chamar o pai ou a mãe, entrar em contato com aquela pessoa que era importante, e as coisas seriam diferentes, não teríamos que lidar com nada.
Isso criou em nós uma tendência de termos forte resistência a situações que nos frustram. Não conseguimos lidar bem com oposição, não aprendemos a negociar bem as diferenças. Pensamos que ou as coisas vão do nosso jeito, ou levamos a bola embora, não falamos mais com a pessoa, nos retiramos da situação, desistimos de tudo.
Somos pessoas hoje que qualquer coisa errada que nos acontece, nos sentimos no direito de revidar, de buscar retratação da outra pessoa, de desistir da companhia dele/dela, simplesmente porque pensa diferente de mim.
Eu sei que há situações nas quais isso pode até ser verdade, mas na maioria das vezes isso é uma questão apenas de falta de vontade em ceder. Não percebemos que o mundo não gira ao redor de nossa vontade. Que por vivermos em sociedade, as coisas não devem ser feitas simplesmente porque eu quero, ou porque eu não quero. Que tudo precisa ser decidido para o bem da maioria, afinal, todos partilhamos o espaço. Ninguém nasceu para ser eremita, e não precisar dos outros. Sempre precisamos de todos. Por isso, precisamos desenvolver habilidades sociais para vivermos bem em grupo.
E quanto à segunda ideia, sobre o que significa ser chefe, gostaria de lembrar vocês que nunca foi nem nunca significou passe livre para viver do jeito que quiser, de qualquer maneira. Significa, isso sim, ter mais responsabilidade para com o bem estar dos outros. Significa ser o primeiro a ajudar em qualquer tarefa, e a ser útil para a vida da outra pessoa. Significa ser a melhor pessoa que se pode ser, para tornar a outra pessoa feliz. E fazer isso simplesmente porque como chefe, essa é a sua responsabilidade.
A maior prova de ser chefe e poderoso que já se viu nesse mundo foi numa quinta à noite, em um lugar de refeições, numa sobreloja em Jerusalém, há dois mil anos atrás. Alguém que podia tudo, mais do que qualquer pessoa nesse mundo, tirou a capa, amarrou uma toalha ao redor da cintura, e se abaixou, para lavar os pés de seus amigos. Jesus é o exemplo de como ser chefe, como ser líder. Inclusive, é isso o que diz no texto sobre o homem ser o cabeça. “Porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja” (Ef. 5:21). Ou seja, a liderança de um homem deve ser vivida em um lar como Cristo lidera o Seu povo. E, quando esteve na terra, os discípulos eram esse povo, e Ele lavou os pés dele.
Ser chefe significa servir, significa cuidar, significa amar sem restrições. E não fazer o que desejar.
Não deixe que essa ideia de poder corrompa sua vida e a felicidade de seu lar. Faça as escolhas corretas, e encontre a verdadeira felicidade em seus relacionamentos.
Que Deus abençoe você e seus relacionamentos,
Osmar Jr
Psicólogo do CEAFA
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